Em MG, 308 cidades têm até 2024 pra acabar com lixões: 'Pouco provável'

 

Presidente da Associação Mineira de Municípios e prefeito de Coronel Fabriciano, Marcus Vinícius afirma que existem diversos desafios para a correta destinação dos resíduos sólidos


A menos de dois anos do prazo determinado por lei para que as cidades se adequem à correta destinação dos resíduos sólidos, Minas Gerais vive um enorme desafio.

O Estado ainda tem 308 municípios que precisam acabar com seus lixões até 2024. Algumas dessas cidades são Abaeté, na região Central, e Conceição do Pará, na região Centro-Oeste. Além disso, há 76 municípios não regularizados, ou seja, sem licença ambiental para a destinação correta do lixo.

Apenas 55% das cidades contam com aterros sanitários ou unidades de triagem ou compostagem licenciadas, o que corresponde a 469 municípios, de um total de 853. Os dados foram divulgados em abril pelo governo de Minas. 

Presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM) e prefeito de Coronel Fabriciano, Marcus Vinícius afirma que é “pouco provável” que se consiga cumprir o prazo determinado pela Lei nº 14.026/2020 - para ele, se chegará a apenas uma redução do número de lixões até 2024. Os motivos citados por ele são vários: vão desde as questões financeiras até as logísticas. Uma alternativa, diz, tem sido pensar em consórcios entre as cidades.

“No 37º congresso mineiro, já tivemos várias palestras sensibilizando os municípios a operar por meio de consórcio, para que realmente tenham êxito e para que a gente em 2024 consiga diminuir esse percentual (de lixões)”, diz ele.

Embora não se consiga chegar a um valor exato de um aterro sanitário, já que os números podem variar muito conforme tamanho da cidade, número de municípios envolvidos, capacidade, entre outros, os investimentos “no lixo” mostram quanto custa arcar com uma destinação correta.

O governo de Minas divulgou nessa segunda-feira (06) que R$ 100 milhões serão designados para tratamento adequado de resíduos sólidos e extinção dos lixões. No mês passado, um investimento de quase R$ 8 milhões também foi anunciado para ajudar a acabar com a incorreta destinação do lixo.

Um investimento importante, diz a superintendente executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA), Dalce Ricas, mas que não compreende a complexidade do problema: de acordo com ela, acabar com os lixões não exige investimento apenas na extinção deles. Requer mudança de mentalidade e criação de leis que englobam outros diversos aspectos.

“O primeiro foco deveria ser a redução de lixo. Uma solução simples seria tomar providências em relação à distribuição de sacolas plásticas. Além disso, seria importante responsabilizar as empresas para que adotassem uma logística reversa eficiente. Muitas não têm o menor compromisso, por exemplo, de saber para onde vão as garrafas plásticas que produzem. Também seria muito importante que se investisse em um currículo escolar que eduque as crianças sobre todas essas questões. Não é só ensinar que não pode jogar lixo no chão”, avalia ela.

Presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes (Abetre), Luiz Gonzaga chama a atenção para outro fator que, segundo ele, é fundamental quando se pensa na extinção dos lixões: a vontade de os municípios realmente acabarem com eles. Para Gonzaga, “difícil não é”.

“É preciso ter vontade para priorizar essa questão. Os consórcios podem ser uma opção, por exemplo. Os lixões são uma desgraça para o meio ambiente, além de afetarem a saúde pública”, salienta.

BH se livrou do lixão em 1975

Em Belo Horizonte, não há lixão desde 1975, quando foi implantado o Aterro Sanitário BR-040. Com o esgotamento do aterro, em 2008, os resíduos começaram a ser destinados para o aterro sanitário da Central de Tratamento de Resíduos Macaúbas, em Sabará, na região metropolitana, contratado por meio de uma parceria público-privada.

Impactos

Os impactos dos lixões são mesmo enormes, conforme explica o professor da Pontifícia Universidade Católica (Puc Minas) e especialista nas áreas de meio ambiente e sustentabilidade, André Rocha.

“É uma forma inadequada de dispor o resíduo, com vários impactos ambientais resultantes. Esse procedimento de dispor o resíduo não tem nenhum tratamento, então isso acaba gerando inúmeros impactos sociais e econômicos também, em termos de saúde pública”, afirma.

Rocha ressalta que, com os lixões, as águas podem ser bastante impactadas, já que há a contaminação do solo. Isso, diz ele, impacta os seres humanos das mais diferentes formas, inclusive os mais vulneráveis, que podem não ter acesso a água tratada. Além disso, afirma o professor, a proliferação de ratos e baratas nesses locais contribui para a propagação de doenças.

“É preciso entender quanto de impacto um lixão gera, o quanto pode gerar de poluição, mau cheiro, atração de doenças. O Brasil precisa avançar no trato com os resíduos”, diz ele. “Todos esses impactos geram custos para o Estado, desde os cuidados com a saúde até questões relacionadas à depreciação de imóveis”, afirma.

Consumo consciente

Para Rocha, é muito importante que tanto poder público e privado criem medidas de incentivos para a gestão de resíduos. Entretanto, o especialista chama a atenção para mais um fator: a necessidade de envolvimento da sociedade, criando hábitos de consumo mais razoáveis e equilibrados.

“Nós somos corresponsáveis pelo resíduo. Muitas pessoas estão acostumadas a ver os caminhões passando na rua, mas não sabem para onde eles levam o lixo. A população precisa entender os ciclos do produto e como pode contribuir mais com o meio ambiente”, diz.

A reportagem procurou a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e perguntou se a extinção de lixões realmente deverá acontecer até 2024 em todo o Estado. Também foi questionado sobre fiscalização de lixões e se há algo que o Estado faz quando o município não cumpre a lei. Porém, não houve retorno até a publicação desta matéria. 


Otempo

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Programa socioambiental dos Estabelecimentos Prisionais - 20 milhões de embalagens recicladas


 

Em abril de 2022, nós a Eco-Logica - Gestão de resíduos, ultrapassamos a marca de 200 toneladas de plásticos reciclados do sistema Prisional do Estado de Minas Gerais. Foram mais de 20 milhões de embalagens recicladas. Acesse: www.facebook.com/ecologicaresiduos Se quer saber, nunca é tarde demais para ser quem você quiser ser; Não há limite de tempo, comece quando você quiser. Você pode mudar ou ficar como está, não há regras para esse tipo de coisa. Podemos encarar a vida de forma positiva ou negativa, Espero que encare de forma positiva; Espero que veja coisas que surpreendam você; Espero que sinta coisas que nunca sentiu antes; Espero que conheça pessoas com ponto de vista diferente; Espero que tenha uma vida da qual você se orgulhe. E se você descobrir que não tem, Espero que tenha forças para conseguir começar de novo”. Eric Roth, roteirista do filme “O Curioso Caso de Benjamin Button” (Carta para Caroline), adaptação do conto de F. Scott Fitzgerald

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19 milhões de embalagens recicladas




Plásticos PP, PEAD, PS, PET entre outros, criado no início do século XX, o plástico tornou- se algo comum no dia a dia das pessoas, sendo utilizado em quase tudo que existe. Desde peças de veículos, instrumentos cirúrgicos e órgãos artificiais, artigos decorativos, roupas e calçados, produtos para construção civil, cosméticos e as embalagens de praticamente tudo que é fabricado no mundo moderno.



Anualmente, cerca de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas pelo mundo, sendo que quase 160 toneladas são de embalagens de uso único. para se ter uma ideia, o primeiro plástico criado por volta de 1950, ainda existe em nosso meio ambiente, pois a grande maioria deste resíduo acaba em aterros e pior, são descartadas no meio ambiente, onde se desagrega em micropartículas e poluem as águas e o ar, prejudicam a fauna marinha e, finalmente, são ingeridas pelos seres humanos. Infelizmente, já existe mais plástico nos oceanos do que na terra e até 2050, haverá mais plástico nos oceanos do que peixes. Além disso, praticamente todas as aves marinhas, peixes e até mesmo o plâncton já possuem microplásticos nos seus organismos. Para se ter uma ideia, em 2020, cientistas conseguiram identificar os primeiros seres humanos com microplásticos em seus organismos. Dado o exposto, o programa socioambiental dos Estabelecimentos prisionais do Estado de Minas Gerais, atua na redução dos impactos ambientais causados pelos complexos prisionais de Ribeirão das Neves e São Joaquim de Bicas. Criado em 2015 no presídio Inspetor José Martinho Drumond, o projeto piloto realizou uma série de pesquisas sobre a possibilidade de se criar uma unidade prisional sob a ótica ecológica, atendendo os pilares da sustentabilidade, além de promover a educação ambiental e metodologias para reutilizar, reduzir e reciclar os próprios resíduos sólidos. Em 2019, o programa socioambiental entrou em operação com a proposta de reciclar as embalagens de uso único, chamadas popularmente de “ marmitas de isopor®”, mas tecnicamente, são embalagens de EPS - poliestireno expandido, um tipo de plástico celular rígido composto por 98% de ar e 2% de plástico, entretanto, somente nos complexos prisionais de Ribeirão das Neves, mais de 140 KG deste material são gerados diariamente.
O processo de reciclagem destas embalagens se tornou possível após uma parceria entre Governo do Estado de Minas Gerais e a iniciativa privada que através de um processo inovador que transforma os resíduos de EPS em produtos altamente resistentes usados na fabricação de molduras, quadros, porta, retratos, espelhos, revestimentos, decks, rodapés, guarnições, rosetas para portas, entre outros, utilizados pelo mercado da construção e decoração no Brasil e exportado para vários países.

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Governo ajuda a reduzir em quase 11% o número de lixões em Minas


 Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) vem desenvolvendo ações para auxiliar os municípios no encerramento de lixões em todas as regiões de Minas Gerais. Desde que assumiu a gestão das políticas públicas relacionadas a resíduos sólidos no estado, em 2019, o Estado já conseguiu reduzir o número de lixões em MG de 360 para 321.


“Investir em gestão sustentável de resíduos é investir não apenas em meio ambiente, mas também em saúde pública e qualidade de vida, além de promover o desenvolvimento econômico e social do Estado. É garantir dignidade a todos os mineiros”, frisa a secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Marília Melo.

Além de reduzir em quase 11% o número de lixões, a Semad também firmou 14 Termos de Cooperação Técnica. Os documentos, assinados junto a consórcios públicos intermunicipais, têm como objetivo a promoção de ações compartilhadas de manejo e destinação ambientalmente regular de RSU. 

Neste contexto, segundo a secretária, a articulação entre Estado e municípios é essencial para garantir a universalização dos serviços de coleta e destinação ambientalmente regulares em Minas Gerais. 

Regularização

Iguatama, no Centro-Oeste, é um dos 452 municípios mineiros que encerraram seus lixões e regularizaram a destinação de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) com apoio da Semad. Atualmente, o município conta com uma Unidade de Triagem e Compostagem (UTC) que gera cerca de R$ 20 mil mensais, além de 25 empregos diretos e indiretos na região. 

Em janeiro de 2021, representantes da Prefeitura de Iguatama identificaram sinais de fim da vida útil do lixão que atendia o município, com ameaça de interrupção da coleta na cidade. Visando encerrar o ciclo de degradação ambiental provocado pela estrutura irregular, a prefeitura entrou em contato com a Semad buscando orientações para dar início ao processo de encerramento do lixão e licenciamento da UTC municipal. 

“O material acumulado inviabilizava a utilização do local, com lixo chegando à área de apoio e condições inapropriadas de processamento. Nesse momento, entramos em contato com o Estado para viabilizar as ações necessárias à regularização ambiental da estrutura”, relata o secretário de Meio Ambiente de Iguatama, Éder Rezende. 

Triagem

A partir da orientação técnica da Semad foi iniciado o processo de encerramento do lixão local e, após capacitação, uma equipe com oito integrantes foi formada para realizar a triagem dos resíduos. “Em menos de um mês, todo o lixo da cidade já estava sendo triado por uma equipe devidamente treinada”, acrescenta Rezende. 

Atualmente, das quase sete toneladas de RSU gerados diariamente em Iguatama, cerca de 35% são encaminhados a empresas de reciclagem após triagem, gerando uma renda de R$ 240 mil anuais ao município. O restante do material é encaminhado a um aterro sanitário terceirizado localizado no município de Bambuí, distante 20 km de Iguatama. 

A área do antigo lixão encontra-se em processo de recuperação, com vegetação de sucessão primária cobrindo o local após introdução de espécies nativas. A prefeitura já deu início também à formulação do Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD) visando o encerramento definitivo do lixão. 

De acordo com o prefeito de Iguatama, Lucas Lopes, o apoio da Semad foi fundamental para a correta tomada de ações e regularização da coleta de resíduos no município. “A participação da Semad ao longo de todo o processo fez toda a diferença, instruindo e acompanhando todos os trâmites em intensa interlocução com nossos técnicos”, salienta. 

Incentivo

Ainda no contexto das ações de saneamento básico, a Semad lançou, em 2021, edital público para composição do Banco de Projetos de Saneamento Básico, que mantém como uma de suas áreas de atuação a limpeza urbana e o manejo de resíduos sólidos.

O objetivo, segundo a diretora de Resíduos Sólidos Urbanos e Drenagem de Águas Pluviais da Semad, Juliana Pacheco, é promover apoio aos municípios e consórcios públicos intermunicipais do estado na captação de recursos, articulação e orientações técnicas para a efetivação de seus projetos vinculados ao manejo sustentável de resíduos.

Os municípios que destinam os resíduos sólidos urbanos de, no mínimo, 70% da população urbana para aterros sanitários ou UTCs recebem ainda, como parte da política de incentivo ambiental do Governo de Minas, uma ampliação do repasse relativo ao Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Também conhecido como ICMS Ecológico, o benefício se dá em função da adoção de sistemas ambientalmente adequados e devidamente licenciados de destinação de RSU, desde que atendidos critérios específicos de seleção.

Saneamento Legal

Outra iniciativa que pretende ampliar o quantitativo de municípios com serviços de destinação de resíduos ambientalmente regulares é o Programa Saneamento Legal, também lançado em 2021. Por meio dele, os municípios receberão apoio técnico da Secretaria para caracterizar os empreendimentos com impactos ambientais locais, apontar os estudos necessários para requerer o licenciamento ambiental e instruir de forma adequada os processos administrativos.

Tendo como um de seus eixos de atuação a destinação de RSU, o programa visa tornar o processo de regularização ambiental cada vez mais acessível e objetivo.

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Governo tenta 'destravar' setor de lixo


Enquanto o setor de água e esgoto atravessa um período de expansão de investimentos graças ao novo marco legal do setor, uma outra face do saneamento brasileiro patina. Sancionada em 2020, a lei também buscou transformar o segmento de coleta, tratamento e destinação do lixo no Brasil, mas o interesse privado ainda é limitado. Mas a destinação incorreta dos resíduos é vista como um problema urgente, pois o País tem mais de 1,5 mil lixões.

A questão está no radar do governo federal, que planeja editar nos próximos meses um decreto para regulamentar as normas de resíduos sólidos do marco legal. Um dos principais entraves é a resistência de municípios em criar tarifas para bancar as atividades relacionadas ao lixo. O temor de desgaste político é um motivo do atraso.


O caso de São Paulo ilustra a situação. Após anunciar em 2021 um estudo sobre a "ecotaxa", como o encargo seria chamado, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) recuou e optou por prever o impacto da renúncia de receita em sua Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2022.

"O que precisamos alterar é a formação política dos prefeitos. Eles precisam compreender que o meio ambiente está sendo afetado de uma maneira extremamente forte. As últimas chuvas mostram o que está acontecendo", afirma Luiz Gonzaga, presidente executivo da Abetre, associação que reúne as empresas de tratamento de lixo no País.

A implantação da cobrança para os resíduos é imposta pela lei do saneamento, e deveria ter sido cumprida pelas prefeituras até julho do ano passado. Segundo o marco, caso as prefeituras não estipulem uma arrecadação, fica configurada renúncia de receita, exigindo que as gestões demonstrem meios de sustentar os serviços.

Não há número oficial de quantos municípios descumprem a regra, mas o setor acredita que boa parte das cidades continua irregular. Esse panorama deve ficar mais claro após a Agência Nacional de Águas (ANA) finalizar um levantamento com as prefeituras, no final do mês. Cerca de 1,1 mil municípios, ou seja 20% do total, já informaram a agência sobre a cobrança pelo manejo de resíduos sólidos, disse a Confederação Nacional de Municípios (CNM). Não é possível precisar quantas cidades apresentaram o instrumento de cobrança ou um cronograma de início, ressalta a entidade.

A Prefeitura de São Paulo informa que a não criação da taxa foi motivada pelos impactos que poderia causar no orçamento das famílias "em um momento em que os efeitos econômicos da pandemia da covid-19 ainda são sentidos".

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Humanidade transforma 91,4% de tudo que produz e usa em lixo


A humanidade transforma 91,4% de tudo o que produz e utiliza em lixo. Os 8,6% restantes têm algum tipo de reaproveitamento, e não necessariamente o mais eficiente possível. Em 2017, esse percentual de aproveitamento, chamado de índice de circularidade, era de 9,1%. Ou seja, a situação está piorando.

Os dados estão na quinta edição do Circularity Gap Report, estudo que faz um raio x dos fluxos da economia mundial compilando informações de diversas fontes e que saiu no último dia 19 de janeiro. É elaborado pela Circle Economy, iniciativa que faz esse tipo de levantamento e análise para empresas e gestores públicos e privados.

Segundo o documento, a economia global consome 70% mais materiais virgens do que o mundo pode repor com segurança: o uso anual de recursos foi de 89,8 bilhões de toneladas em 2016, ultrapassou os 100 bilhões em 2019 e está estimado em 101,4 bilhões em 2021.

O relatório aponta que as metas climáticas dos países se fixam na redução de combustíveis fósseis, mas dão pouca ênfase ao peso da extração de matérias virgens e às formas de consumo insustentáveis, sendo que 70% das emissões de GEE são relativas à produção e ao uso de todos os tipos de produto.

De outra parte, a economia circular figura em muitas políticas e objetivos governamentais e multilaterais (como o Plano de Ação da Economia Circular da União Europeia) apenas como um outro nome para a reciclagem, que tem suas limitações na contenção das emissões.

Para avançar na direção de uma circularidade mais abrangente e na eficaz redução de emissões, o relatório aponta 21 soluções em alimentação, comunicações, cuidados de saúde, consumo, mobilidade e habitação que podem ajudar a cumprir a meta do Acordo de Paris, de limitar o aquecimento global a 1,5 °C até 2050.

Em cada uma delas, há uma estimativa de economia de emissões e materiais. Somadas, as 21 soluções dariam 22,8 bilhões de toneladas (22,8 Gt) de emissões de gases do efeito estufa.

Para implementar essas soluções, é preciso um equilíbrio de políticas, incentivos financeiros e responsabilidades individuais. "Podemos consertar o clima se pudermos consertar a economia", disse o diretor de estratégias da Circle Economy, Marc de Wit, no webinário de apresentação do relatório.

"Os governos nacionais e locais precisarão fornecer orientação e condições favoráveis, os consumidores precisarão fazer escolhas que encorajem a circularidade e as empresas precisarão redesenhar seus processos desde o início", aponta o documento.

As soluções seguem quatro princípios fundamentais: extrair menos matérias primas virgens e recursos, usar produtos por mais tempo, desenhar produtos e materiais com vistas à desmontagem e reciclagem, regenerar solo, agricultura e investir em energias renováveis.

Elas se dividem em sete eixos baseados nas necessidades humanas: habitação, alimentação, mobilidade, produtos de consumo, serviços, assistência médica e comunicação.

"A necessidade que representa a maior pegada de recursos e emissões é a construção e manutenção de casas residenciais, especialmente em países de baixa renda", diz o estudo. Em segundo lugar no ranking, está a alimentação, por seus ciclos de vida curtos na economia. Em terceiro, a necessidade de mobilidade que consome dois tipos de recursos: materiais para construir o transporte em tecnologias de veículos como carros, trens e aviões e os combustíveis para alimentá-los.

As propostas sobre alimentação poderiam contribuir para cortar 10 bilhões de toneladas de emissões globais, basicamente com: a) produção alimentar sustentável; b) redução do consumo excessivo e c) adoção de uma dieta mais saudável. De acordo com o relatório, as empresas podem agir antes que os governos nacionais ou locais estabeleçam metas, construindo transparência em suas cadeias de suprimentos.
As 21 propostas do Circularity Gap Report 2022

1- Design eficiente nos aparelhos eletrônicos >> economia: 0,19 Gt de emissões e 0,33 Gt em uso de material.
Estratégias: Comprar menores e mais leves dispositivos eletrônicos, aumentar digitalização, privilegiar computação em nuvem.

2- Equipamentos de saúde circulares >> economia: 0,21 Gt de emissões e 0,27Gt em uso de material.
Estratégias: Reparação, manutenção e design durável de equipamentos médicos, substituir artigos médicos descartáveis por reutilizáveis, assistência médica virtual, reciclagem de resíduos médicos.

3- Consumo consciente de produtos duráveis >>economia: emissões de 0,18 Gt e uso de material de 0,27 Gt.
Estratégias: Reparação, manutenção, compartilhamento e uso de segunda mão de têxteis, eletrodomésticos, móveis, maquinaria e equipamentos.

4- Projeto e uso eficiente de produtos de consumo >> economia: emissões de 0,30 Gt e uso de material de 0,80 Gt.
Estratégias: uso menor ou mais eficiente de papel, plástico, móveis, produtos eletrônicos e uso mais eficiente de têxteis mais naturais.

5- Melhorar utilização dos veículos >> economia: 1,83 Gt de emissões e uso de material de 1,64 Gt.
Estratégias: Condução mais eficiente para economia de combustível, compartilhamento de veículos.

6- Veículos circulares >> economia: 1,50 Gt de emissões e 3,33 Gt de uso de material.
Estratégias: Reciclar veículos em fim de uso, usar metais e plásticos reciclados na reparação de veículos.

7- Maior durabilidade de veículos >> economia: 1,23 Gt de emissões e uso de material de 2,18 Gt.
Estratégias: Reaproveitamento de componentes de veículos automotores, design visando produção de veículo durável, veículo desenhado para reparo e manutenção.

8- Melhorias em projetos de veículos >> economia: 1,22 Gt de emissões e uso de material de 1,24 Gt.
Estratégias: Veículos mais leves e menores, condução autônoma (por ser mais segura, não exige carros resistentes a colisões).

9- Menos produtos químicos nos veículos >> economia: 0,96 Gt de emissões e uso de material de 2,50 Gt.
Estratégias: Usar bioplástico, usar menos plástico, usar menos produtos químicos.

10- Itens de consumo circulares >> economia: 0,31 Gt de emissões e uso de material de 0,45 Gt.
Estratégias: Reciclar plásticos, usar papel para escrever reciclado, aumentar o uso de materiais reciclados em móveis, reciclagem de malhas de fibras sintéticas.

11- Reduzir viagens >> economia: 2,41 Gt de emissões e 1,96 Gt uso de material.
Estratégias: Teletrabalho, reduzir transportes de carga.

12- Produção sustentável de alimentos>> economia: 2,07 Gt de emissões e uso de material de 3,40 Gt.
Estratégias: Produção de alimentos orgânicos, sazonais e para consumo regional e local, incentivo à produção familiar de alimentos, uso de biomassa na alimentação.

13- Reduzir desperdício na produção de alimentos >> economia: 2,07 Gt de emissões e uso de material de 3,40 Gt
Estratégias: Substituir rações de proteína animal por produtos agrícolas recuperados para as culturas, usar menos embalagens em produtos alimentares.

14- Dieta saudável >> economia: 1,32 Gt de emissões e 0,42 Gt de uso de material.
Estratégias: Consumir principalmente dietas à base de plantas, comer menos açúcar em alimentos e bebidas, comer menos alimentos processados.

15- Fogões limpos >> economia: 0,97 Gt de emissões e 0,41 Gt uso de material.
Estratégias: Substituir fogões poluidores por tipos não poluentes.

16- Recursos eficientes na habitação >> economia: 1,96 Gt de emissões e 0,79 uso de material.
Estratégias: aproveitamento melhor da insolação, economia de água quente, medições inteligentes de temperatura, melhor isolamento térmico, menor uso de aquecimento.

17- Recursos eficientes na construção civil >> economia: 3,45 Gt de emissões e uso de material de 4,05 Gt.
Estratégias: projetos mais leves com uso de materiais de construção locais.

18- Soluções naturais na habitação >> economia: 6,47 Gt de emissões e uso de material de 3,07 Gt.
Estratégias: Telhados verdes, construção passiva (que aproveita e armazena os recursos de água e energia e aproveita a temperatura ambiente), com produção própria de energia renovável.

19- Habitações menores>> economia: 3,16 Gt emissões e 8,38 Gt uso de materiais.
Estratégias: Uso de habitações compartilhadas, uso de espaços multifuncionais, limites de estoques residenciais e de expansão habitacional nas cidades.

20- Aumento de durabilidade das habitações >> economia: emissões de 2,15 Gt e uso de material de 5,28 Gt.
Estratégias: Renovação e reformas para salvar imóveis da demolição.

21- Circular materiais de construção >> economia: 1,14 Gt de emissões e uso de material de 3,55 Gt.
Estratégias: Construção com matérias-primas fruto da reciclagem, reúso de resíduos de construção e de demolições.



Mara Gama
Colunista do UOL
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